segunda-feira, 31 de maio de 2010

Literatura Indígena: de que se trata?

Já afirmou meu amigo Daniel Munduruku, com quem partilhei o desafio de adaptar o célebre discurso do Chefe Seattle no livro A palavra do grande chefe (Global Editora, 2009), que o fio entre a escrita e a oralidade é muito tênue. A trajetória da chamada literatura indígena é muito recente, ainda que já existam vários escritores indígenas com publicações editadas no Brasil e no exterior. Contudo, a memória ancestral dos 230 diferentes povos nativos, falantes de 180 línguas e dialetos, é muito vasta e ainda pouco registrada em papel. Parece ser fundamental para a sobrevivência da narrativa oral que todo o repertório dessas etnias seja transcrito. Com o domínio gradual da técnica literária, manejo da língua oficial e tecnologias disponíveis, o escritor indígena tem uma nova missão. Demonstrar que a escrita pode ser uma aliada da oralidade.

Uma ideia sobre a Literatura Indígena, para além das convenções culturais, precisa ser compreendida de uma forma mais ampla. Narrativas orais insinuam-se pelo som dos maracás, na fala hipnótica dos pajés, na pintura e expressão corporal, na disposição dos adornos plumários, na fumaça ascendente do caximbo e nas interpretações ao pé da fogueira. Tudo isso é literatura indígena. O território nativo da narrativa tem outras grandezas.

Olivio Jekupé(escritor), Álvaro Tukano e Manoel Moura Tukano (líderes tradicionais)

Tridimensional, performática, cênica, mágica, atemporal e envolvente. Para que toda essa riqueza possa migrar da tradição original para a bidimensionalidade do papel, seja no texto ou na representação gráfica, será sempre necessário que cada escritor (ou ilustrador) saiba manejar com certa destreza os recursos das duas tradições. E aí testemunharemos uma produção rica e diversa. Logo abaixo, um depoimento do pajé Manoel Moura Tukano. Um ótimo exemplo da visão narrativa, circular e bioética dos povos autóctones.

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