quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Saída: SÃO PAULO / Destino: TEKOA

Está também em produção o próximo livro do escritor Olívio Jekupé: TEKOA, CONHECENDO UMA ALDEIA INDÍGENA, segunda obra da Coleção Muiraquitãs, pela Global Editora.A segunda ita-tuxaua, ou pedra de chefe, desta coleção. De maneira mais simbólica do que descritiva ou realista, ilustrei a história de um menino da cidade que passa um mês entre os Guarani. Na narrativa construída com delicadeza pelo autor, há um paralelo entre a urbanidade paulistana e a vida na aldeia TEKOA (pronuncia-se como oxítona). Entre outras coisas, revela os valores físicos e metafísicos de uma aldeia. Onde o povo Guarani vive conforme suas próprias tradições, leis, costumes e princípios. Traço de identidade, assim como a própria língua.

Por falar em língua, confira a primeira edição on line da Revista Pessoa. Fui convidado pela editora Mirna Queiroz a colaborar. Em homenagem ao escritor Olívio Jekupé e aos Guarani – bem como ao livro TEKOA, CONHECENDO UMA ALDEIA INDÍGENA, que será lançado pela Global Editora em 2011 – preparei um breve poema publicado nas páginas 45 e 46. Recomendo a visita ao site da Revista Pessoa, que ambiciona conectar os 250 mihões de habitantes da comunidade lusófona, dispersa pela África, Europa, Ásia e América.

Muiraquitãs ou mbïraki'tã?

Muiraquitãs, assim no plural, em nome de origem indígena? Diferente do português, não se usa a letra "s" para indicar o plural nas diversas línguas indígenas. Por sinal, também prefiro dizer: os Guarani, os Kaingang, os Munduruku. Por conta também da vivência coletiva dos povos indígenas, que têm uma maneira singular de ser plural.

Segundo José de Souza Martins, sociólogo e estudioso de cultura popular, o "falar errado" do caipira precisa ser esclarecido. É uma variação dialetal da língua portuguesa, fortemente influenciada pelo nheengatu ou língua geral. O nheengatu é o tupi pelos jesuítas submetido às regras da gramática da língua portuguesa, com a inclusão de algumas palavras espanholas. Quando o Brasil era colônia de Portugal e Espanha, durante a unificação das Coroas entre 1580 e 1640, a população falava o nheengatu. Já a fala do caipira mistura o nheengatu e o português. Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, o nheengatu é língua oficial, junto com o português e o espanhol.

Os jesuítas adotaram o tupi como base para elaboração do nheengatu, pois foi a provável primeira língua que conheceram no Brasil e a mais falada entre os povos da costa. Depois o disseminaram pelo trabalho missionário, mesmo entre povos de outros troncos linguísticos. E assim unificaram linguisticamente etnias que usavam variantes do tupi. E formalizaram sua escrita. Após a proibição do rei de Portugal no século XVIII, o dialeto caipira apenas resistiu no interior, onde era menor a repressão linguística.

É caipira a mais típica fala paulista. Quando os colonos aqui chegaram, seguiram a mesma toada, pois os italianos também não usam o "s" ao final da palavra como um indicativo do plural.

Muiraquitãs, portanto, está grafado em sua forma aportuguesada, que pode soar estranho ao ouvido indígena. Do tupi, mbïra (verruga da madeira, pau ou árvore) e quitã (pau ou árvore). O original – mbïraki'tã ou muyrakitã – poderia, contudo, trazer dificuldades ao leitor não indígena.