quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Muiraquitãs ou mbïraki'tã?

Muiraquitãs, assim no plural, em nome de origem indígena? Diferente do português, não se usa a letra "s" para indicar o plural nas diversas línguas indígenas. Por sinal, também prefiro dizer: os Guarani, os Kaingang, os Munduruku. Por conta também da vivência coletiva dos povos indígenas, que têm uma maneira singular de ser plural.

Segundo José de Souza Martins, sociólogo e estudioso de cultura popular, o "falar errado" do caipira precisa ser esclarecido. É uma variação dialetal da língua portuguesa, fortemente influenciada pelo nheengatu ou língua geral. O nheengatu é o tupi pelos jesuítas submetido às regras da gramática da língua portuguesa, com a inclusão de algumas palavras espanholas. Quando o Brasil era colônia de Portugal e Espanha, durante a unificação das Coroas entre 1580 e 1640, a população falava o nheengatu. Já a fala do caipira mistura o nheengatu e o português. Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, o nheengatu é língua oficial, junto com o português e o espanhol.

Os jesuítas adotaram o tupi como base para elaboração do nheengatu, pois foi a provável primeira língua que conheceram no Brasil e a mais falada entre os povos da costa. Depois o disseminaram pelo trabalho missionário, mesmo entre povos de outros troncos linguísticos. E assim unificaram linguisticamente etnias que usavam variantes do tupi. E formalizaram sua escrita. Após a proibição do rei de Portugal no século XVIII, o dialeto caipira apenas resistiu no interior, onde era menor a repressão linguística.

É caipira a mais típica fala paulista. Quando os colonos aqui chegaram, seguiram a mesma toada, pois os italianos também não usam o "s" ao final da palavra como um indicativo do plural.

Muiraquitãs, portanto, está grafado em sua forma aportuguesada, que pode soar estranho ao ouvido indígena. Do tupi, mbïra (verruga da madeira, pau ou árvore) e quitã (pau ou árvore). O original – mbïraki'tã ou muyrakitã – poderia, contudo, trazer dificuldades ao leitor não indígena.

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